"Por cima o Céu, por baixo a Terra, no meio os Ciganos"

(provérbio Cigano)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Um dia fomos Pássaros...

Conta uma velha lenda que antigamente os ciganos eram pássaros. Um dia, em pleno voo sobre a terra, viram um palácio dourado brilhando ao sol e desceram para ver melhor. O palácio era habitado por perus, galinhas e patos que, maravilhados pela beleza dos ciganos-pássaros, começaram a oferecer-lhes todo o tipo de jóias e guloseimas suplicando-lhes que não se fossem embora. Em breve todos os pássaros estavam cobertos de correntes de ouro dos pés à cabeça.

Apenas um pássaro resistiu à tentação destas riquezas incitando os outros a retomar o voo. Então, com o coração pesaroso, elevou-se no ar e atirou-se para as pedras desde o alto dos céus. Só nesse momento é que os ciganos-pássaros acordaram do seu atorpecimento e começaram a bater as asas. Mas o ouro puxava-os para baixo e não conseguiam sair do chão.

Os perus, as galinhas e os patos cantaram vitória. Manteriam para sempre aqueles belos pássaros encerrados em gaiolas de ouro. De repente, uma pequena pena vermelha deslizou para dentro do palácio, indo aterrar aos pés dos pássaros. O ouro caiu dos seus corpos mas as suas asas já não lhes obedeciam e não conseguiram levantar voo.

A pequena pena vermelha, suavemente levantada pelo vento, saiu do palácio e foi errar pelos caminhos poeirentos. Os ciganos seguiram-na e foram perdendo as suas penas uma por uma, transformando-se, assim, em humanos.

Com corpo de homem e alma de pássaro, esqueceram-se para sempre de como voar.

Somos...

Livres como os campos,

Misteriosos como o mar,

Andantes como os rios,

Secretos como os bosques,

Ligeiros como os ventos,

Andantes como o fogo,

Cautelosos como a noite,

Imprevisiveis como a estrada,

Leves como o ar,

Argutos como a raposa,

Sentimentais como a música,

Verdadeiros como as crianças,

Mas

INCOMPREENDIDOS como a verdade

Assim como nós,

CIGANOS
(Anny Reis)