quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Comunidade Cigana e a Escola Pública
Ao longo de vários anos, Cada vez mais a Escola vai exigindo da criança cigana o desempenho de certas tarefas, que quando deparada com elas toma consciência de que os conhecimentos que possui e que são valorizados pelo seu grupo de pertença, não são considerados adequados, tendo um reduzido significado para a escola. Este facto pode ser considerado inibidos no desempenho dessas tarefas, consideradas ameaças à sua auto-estima. A não resolução destas tarefas de acordo com o êxito definido pela Escola é reflexo da vulnerabilização da criança a um meio que lhe é desconhecido, não funcionando segundo as regras que conhece.
Muitos dos argumentos usados por professores e técnicos de intervenção é que as crianças são preguiçosas e que mentem bastante. No entanto, parece ser negligenciado o facto da mentira, associada a este grupo étnico, ter sido construída como uma estratégia de sobrevivência, necessária para fazer face à situação de desvantagem e desigualdade social e cultural vivenciadas.
Estas crianças são consideradas escolarmente difíceis porque provocam "ruído", incomodam pela evidente dificuldade de adaptação e integração. É nos processos de organização do trabalho dentro da sala de aula que reside a maior incomodidade dos ciganos em relação à escola, motivando-os a criar uma serie de pretextos para abandonarem a sala a meio de uma aula ou faltarem às aulas.
o receio de ser inferiorizado pelo "outro" resulta num fechamento das relações de sociabilidade inter-étnicas e fechando-se mais no grupo de pertença. A percepção da sua falta de escolaridade é associada a uma "deficiência" que os inibe de se inserirem no mercado de trabalho em ocupações fora do âmbito tradicional cigano, castrando-lhes as perspectivas de futuro profissional. A incapacidade de permanecer de forma continuada na escola deriva da pertença a um sistema cultural tradicionalmente afastado do saber letrado.
Desde sempre as crianças ciganas crescem num ambiente familiar e comunitário onde a escola é pouco valorizada, marginal às restantes actividades do seu quotidiano. O ritmo de vida das crianças é pautado pelo ritmo de vida dos adultos, o que influencia a percepção espacial e temporal e, consequentemente, a estrutura de pensamento da criança, diferente da exigida pela Escola.
(fonte: "A Relação dos Ciganos com a Escola Pública", Casa-Nova, Maria José)
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