"Por cima o Céu, por baixo a Terra, no meio os Ciganos"

(provérbio Cigano)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Comunidades Ciganas, Cultura e Tradições"

No âmbito da Semana da Comunidade Educativa,no passado dia 24 de Janeiro teve lugar, na EBI de Amareleja, a tertúlia "Comunidades Ciganas, Cultura e Tradições" organizada pelo PIEF de Moura/Amareleja. Este evento juntou alunos e técnicos do PIEF, representantes da EBI (Direcção, Delegados e Subdelegados de turma, Funcionários), da Câmara Municipal de Moura e da CPCJ, a equipa do Projecto Encontros e o Mediador da Câmara Municipal. Para dar inicio à tertúlia foi apresentado o projecto "O Contador de Historias" (em articulação com o PIEF de Mourão): os alunos do PIEF em conjunto com a professora de Viver Português, contaram a história de um jovem cigano no seu percurso escolar e profissional e deram os seus testemunhos sobre a sua experiência pessoal na Escola e na convivência com outras culturas, assim como sobre a importância da Escola no seu percurso pessoal. De seguida, foi passado o filme "Sou Cigano", onde uma criança aborda várias questões relacionadas com a cultura cigana, como o casamento e o luto. Questões estas que seriam depois aprofundadas numa apresentação em power point, onde foram também apresentados temas como a religião, a língua, a bandeira, as diferentes festividades, o papel da família, do trabalho e da musica na comunidade cigana. Todos estes temas foram acompanhados pelas intervenções dos presentes, permitindo debater as perspectivas das diferentes culturas. A tertúlia finalizou com o visionamento do filme "Natal Cigano" realizado pelos alunos do PIEF de Moura/Amareleja com as famílias ciganas de Povoa de São Miguel.

SOU CIGANO from Tânia Duarte on Vimeo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Comunidade Cigana e a Escola Pública

Ao longo de vários anos, Cada vez mais a Escola vai exigindo da criança cigana o desempenho de certas tarefas, que quando deparada com elas toma consciência de que os conhecimentos que possui e que são valorizados pelo seu grupo de pertença, não são considerados adequados, tendo um reduzido significado para a escola. Este facto pode ser considerado inibidos no desempenho dessas tarefas, consideradas ameaças à sua auto-estima. A não resolução destas tarefas de acordo com o êxito definido pela Escola é reflexo da vulnerabilização da criança a um meio que lhe é desconhecido, não funcionando segundo as regras que conhece.
Muitos dos argumentos usados por professores e técnicos de intervenção é que as crianças são preguiçosas e que mentem bastante. No entanto, parece ser negligenciado o facto da mentira, associada a este grupo étnico, ter sido construída como uma estratégia de sobrevivência, necessária para fazer face à situação de desvantagem e desigualdade social e cultural vivenciadas. Estas crianças são consideradas escolarmente difíceis porque provocam "ruído", incomodam pela evidente dificuldade de adaptação e integração. É nos processos de organização do trabalho dentro da sala de aula que reside a maior incomodidade dos ciganos em relação à escola, motivando-os a criar uma serie de pretextos para abandonarem a sala a meio de uma aula ou faltarem às aulas. o receio de ser inferiorizado pelo "outro" resulta num fechamento das relações de sociabilidade inter-étnicas e fechando-se mais no grupo de pertença. A percepção da sua falta de escolaridade é associada a uma "deficiência" que os inibe de se inserirem no mercado de trabalho em ocupações fora do âmbito tradicional cigano, castrando-lhes as perspectivas de futuro profissional. A incapacidade de permanecer de forma continuada na escola deriva da pertença a um sistema cultural tradicionalmente afastado do saber letrado.
Desde sempre as crianças ciganas crescem num ambiente familiar e comunitário onde a escola é pouco valorizada, marginal às restantes actividades do seu quotidiano. O ritmo de vida das crianças é pautado pelo ritmo de vida dos adultos, o que influencia a percepção espacial e temporal e, consequentemente, a estrutura de pensamento da criança, diferente da exigida pela Escola. (fonte: "A Relação dos Ciganos com a Escola Pública", Casa-Nova, Maria José)