"Por cima o Céu, por baixo a Terra, no meio os Ciganos"

(provérbio Cigano)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Encontro Temático: Educação e Cultura Cigana


Inserido na semana da comunidade educativa, organizada pela Câmara Municipal de Moura, no dia 26 de Janeiro pelas 21h foi desenvolvido mais um Encontro Temático pelo projecto encontros.
Na junção entre a temática das comemorações e os objectivos do projecto, o debate foi centrado na “educação e cultura cigana”.
23 pessoas marcaram presença naquela noite fria, representando uma grande diversidade de perfis que enriqueceu desde o início a apresentação preparada pelo projecto.
Numa primeira parte, a apresentação centrou-se em dados estatísticos, para chegar a um ponto da situação da escolaridade das crianças ciganas no concelho de Moura. Várias fontes de dados foram utilizadas, sendo umas oficias, outras oriundas da observação participante da equipa do projecto, e ainda outras fruto de conversas e recolha de opiniões.
Além da componente quantitativa, destacou-se uma visão “dos dois lados” da dificuldade que representa a integração escolar das crianças ciganas. Problemas e oportunidades foram simultaneamente abordados, quer da perspectiva dos professores e técnicos de intervenção social, quer do ponto de vista das famílias ciganas, de forma genérica mas também de forma mais personalizada.
Rapidamente, e respondendo ao entusiasmo e envolvimento dos participantes, o debate invadiu o espaço, deixando cada um enriquecer o encontro pela sua própria experiência.
As conclusões desta parte foram muito positivas, demonstrando um interesse crescendo, quer por parte da comunidade cigana, quer por parte dos técnicos de intervenção sócio-educativa, numa verdadeira inclusão escolar das comunidades ciganas. Também se concluiu que a afectação de meios por parte da instituição Escola é um passo imprescindível a dar, meios realmente dirigidos ao apoio dos professores no seu trabalho de inclusão escolar das crianças ciganas. O desenvolvimento de respostas alternativas ao modelo actual da frequência escolar também foi apontado como solução temporária aos problemas de assiduidade constatados.

Na segunda parte do encontro, foi feita uma ligação entre os aspectos estatísticos destacados na primeira e alguns elementos conhecidos da cultura cigana que os podem explicar. Estes temas foram abordados de maneira muito mais informal do que previsto, ao longo do debate entre os participantes.

Sem reproduzir aqui a apresentação sobre cultura cigana, podemos aqui citar alguns destes exemplos:
- Que explicam a fraca assiduidade das crianças:
Algumas regras sociais das comunidades ciganas impõem aos pais a não frequência das aulas pelos filhos. Por exemplo, quando acontece algum conflito entre famílias, o costume é mandar uma das famílias envolvidas a sair da comunidade durante algum tempo, variável consoante a gravidade da situação. Ou então, sendo o casamento um evento de primeira importância para a vida social da comunidade, as famílias inteiras não hesitam em se ausentar por vários dias seguidos e participar ao evento.
Estes dois exemplos são alguns aspectos fundamentais da cultura cigana, que tem um carácter prioritário para a vida social da comunidade. Em nenhum momento se colocaria a dúvida faltar a estas regras por causa da obrigação de ir à escola.

- Que explicam a taxa alta de reprovação dos alunos ciganos:
Verifica-se nas comunidades ciganas uma taxa de reprovação maior do que nas comunidades não ciganas. Este elemento pode ser explicado por várias razões: em primeiro lugar pelo ciclo vicioso entre absentismo e insucesso escolar, um levando ao outro e vice-versa. Em segundo lugar pode ser também explicado pelo “perigo” que representa uma transição das crianças para o 2º ciclo do ensino básico, particularmente das meninas. Assim, a retenção no 1º ciclo constitui em muitos casos uma segurança para os pais, num espaço conhecido, balizado.

- Que explicam a pouca valorização da escola:
Em certas comunidades, a ascensão social dos indivíduos passa pela sua qualificação formal, via a escola (ser um “Doutor” continua a ser assunto de orgulho nas famílias). No entanto, nas famílias ciganas, a valorização de uma pessoa passa pelo seu casamento. Assim, as crianças são preparadas desde a infância para a sua união, sendo esse o assunto de orgulho das famílias. A sua formação faz-se então mais em casa do que na escola (os valores transmitidos são por vezes até paradoxais).

Resumidamente, e correndo o risco de omitir alguns elementos importante ao raciocínio, tentou-se então dar aqui um excerto do que foi o último Encontro Temático. Mútua compreensão, partilha de valores e construtivismo ficaram assim como algumas das palavras-chave deste momento.

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